sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Comunicação Compassiva

O exercício da empatia envolve, entre outras coisas, a conexão e a autorresponsabilização.

A conexão implica em estar aberto para o outro, ou seja, ter uma disponilidade interna de observar seu interlocutor para além dos papéis e funções que tem ou exerce. É onde começa a comunicação eficaz, incluindo a não-verbal.

A autorresponsabilização, por sua vez, significa assumirmos responsabilidade pelos nossos sentimentos, emoções, pensamentos e atos e lembrar que tudo que se faz, absolutamente tudo, é de nossa escolha e decisão.  

Geralmente, tendemos a transferir nossos sentimentos para os outros (e com isso não percebemos que estamos também transferido o nosso poder pessoal) e até mesmo as nossas decisões.
Poder-se-ia argumentar que há situações nas quais não há escolhas e é preciso seguir uma exigência ou uma ordem. Em outros momentos, usaria expressões como “eu tenho que”, “eu deveria”, para não se responsabilizar com o que realmente se quer.

“Mas eu tenho que trabalhar”! Tem mesmo? Ou será que se escolhe trabalhar, mesmo que não agrade, porque deseja obter um resultado? Isso pode parecer ser apenas uma troca de palavras, mas, do ponto de vista do exercício da autorresponsabilização, faz toda a diferença!

Marshall Rosemberg nos lembra, conscientiza e convida a observarmos o que denomina de “comunicação alienante da vida” e a experimentarmos os benefícios de sua antítese: uma estratégia compassiva de comunicação por meio da proposta da Comunicação Não-Violenta (CNV). Trata-se de uma forma de comunicação que inclui o outro!

A “comunicação alienante da vida”, segundo Marshall, está baseada em julgamentos moralizadores, em comparações, na negação da responsabilidade e na comunicação de desejos por meio de exigências, de recompensas e punições.

“Culpa, insulto, depreciação, rotulação, crítica, comparação e diagnóstico são todas formas de julgamento” segundo o criador da CNV. É a construção do rótulo de “certo” ou “errado” para tudo que não está compatível com os nossos valores. O problema do julgamento é que reforça no outro a resistência ou a postura defensiva, dificultando e até mesmo obstruindo o canal de comunicação.

Nessa mesma linha, o ato de comparar só permite tonar nossas vidas cada vez mais infelizes. Esquecemos, assim, o quanto somos singulares e que não precisamos ser ou ter o mesmo que os demais para sermos nós mesmos. E sofremos por isso!

A autorresponsabilização, tratada acima, nos convida a superamos um dos aspectos (talvez o mais contundente) da “comunicação alienante da vida”. Berth Hellinger, criador das Constelações Familiares Sistêmicas, costuma dizer que só é livre quem assume as consequências (responsabilidade) pelos seus atos e comportamentos. O que os outros dizem ou fazem não pode ser a causa de como sentimos, mas apenas um estímulo. Pense nisso!

Por fim, uma comunicação verdadeiramente compassiva e empática pressupõe saber fazer pedidos, ao invés de exigências. Quando ordenamos, não damos oportunidade ao nosso interlocutor de responsabilizar-se pelos seus atos. E geralmente camuflamos pedidos em exigências veladas e manipulações de forma a infligir no outro culpa ou punição se não atenderem as nossas necessidades.
Se você chegou ao final deste artigo pode estar se perguntando: “mas o que ganho com a CNV se não vejo os outros dispostos a estabelecerem uma comunicação compassiva e empática?”. Em resposta a CNV faz o convite: “experimente!”

Você irá perceber que não precisa do outro para se beneficiar dos efeitos da comunicação compassiva e se sentirá mais verdadeiro e livre em suas relações. Para utilizar a expressão de um dos inspiradores da Comunicação Não-Violenta (CNV), Mahatma Gandhi: “seja a mudança que você quer ver no mundo”.


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