O exercício da empatia envolve, entre outras coisas, a
conexão e a autorresponsabilização.
A conexão implica em estar aberto para o outro, ou seja, ter
uma disponilidade interna de observar seu interlocutor para além dos papéis e
funções que tem ou exerce. É onde começa a comunicação eficaz, incluindo a não-verbal.
A autorresponsabilização, por sua vez, significa assumirmos
responsabilidade pelos nossos sentimentos, emoções, pensamentos e atos e
lembrar que tudo que se faz, absolutamente tudo, é de nossa escolha e decisão.
Geralmente, tendemos a transferir nossos sentimentos para os
outros (e com isso não percebemos que estamos também transferido o nosso poder
pessoal) e até mesmo as nossas decisões.
Poder-se-ia argumentar que há situações nas quais não há
escolhas e é preciso seguir uma exigência ou uma ordem. Em outros momentos, usaria
expressões como “eu tenho que”, “eu deveria”, para não se
responsabilizar com o que realmente se quer.
“Mas eu tenho que trabalhar”! Tem mesmo? Ou será que se escolhe
trabalhar, mesmo que não agrade, porque deseja obter um resultado? Isso pode parecer
ser apenas uma troca de palavras, mas, do ponto de vista do exercício da autorresponsabilização,
faz toda a diferença!
Marshall Rosemberg nos lembra, conscientiza e convida a observarmos
o que denomina de “comunicação alienante da vida” e a experimentarmos os
benefícios de sua antítese: uma estratégia compassiva de comunicação por meio da
proposta da Comunicação Não-Violenta (CNV). Trata-se de uma forma de comunicação que inclui o outro!
A “comunicação alienante da vida”, segundo Marshall, está
baseada em julgamentos moralizadores, em comparações, na negação da
responsabilidade e na comunicação de desejos por meio de exigências, de
recompensas e punições.
“Culpa, insulto, depreciação, rotulação, crítica, comparação
e diagnóstico são todas formas de julgamento” segundo o criador da CNV. É a
construção do rótulo de “certo” ou “errado” para tudo que não está compatível com
os nossos valores. O problema do julgamento é que reforça no outro a resistência
ou a postura defensiva, dificultando e até mesmo obstruindo o canal de
comunicação.
Nessa mesma linha, o ato de comparar só permite tonar nossas
vidas cada vez mais infelizes. Esquecemos, assim, o quanto somos singulares e
que não precisamos ser ou ter o mesmo que os demais para sermos nós mesmos. E
sofremos por isso!
A autorresponsabilização, tratada acima, nos convida a
superamos um dos aspectos (talvez o mais contundente) da “comunicação alienante
da vida”. Berth Hellinger, criador das Constelações Familiares Sistêmicas,
costuma dizer que só é livre quem assume as consequências (responsabilidade)
pelos seus atos e comportamentos. O que os outros dizem ou fazem não pode ser a
causa de como sentimos, mas apenas um estímulo. Pense nisso!
Por fim, uma comunicação verdadeiramente compassiva e
empática pressupõe saber fazer pedidos, ao invés de exigências. Quando
ordenamos, não damos oportunidade ao nosso interlocutor de responsabilizar-se
pelos seus atos. E geralmente camuflamos pedidos em exigências veladas e manipulações
de forma a infligir no outro culpa ou punição se não atenderem as nossas
necessidades.
Se você chegou ao final deste artigo pode estar se
perguntando: “mas o que ganho com a CNV se não vejo os outros dispostos a
estabelecerem uma comunicação compassiva e empática?”. Em resposta a CNV faz o
convite: “experimente!”
Você irá perceber que não precisa do outro para se
beneficiar dos efeitos da comunicação compassiva e se sentirá mais verdadeiro e
livre em suas relações. Para utilizar a expressão de um dos inspiradores da
Comunicação Não-Violenta (CNV), Mahatma Gandhi: “seja a mudança que você quer
ver no mundo”.
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